"Um dia destes quando eu ganhar juízo Conto-te a história de uma vida levada de improviso Pode ser que deite a cabeça no teu regaço E aprenda a derramar uma lágrima por cada passo - errado Sei que tenho Deus do meu lado Mesmo quando não parece Ele está presente, não carece de uma prece Que lhe apresse o julgamento O discernimento superior está para além do nosso entendimento E pode ser que nesse dia diga que te amo Perca o medo de te falhar assuma prejuízo e dano As minhas cicatrizes só mostram o superficial E nisso podes crer que eu sou um amador profissional
Ou antes um amante, consoante a variante ...
Um dia destes Pode ser que seja hoje, seja hoje então que eu abro mão do meu coração de ladrão Homem de lata e leão perdido num sonho tecnicolor de outra dimensão do faz-de-conta Com as verdades que vou negando com brincadeiras Com as promessas que vou achando serem verdadeiras No final do dia deixam todas um sabor amargo No final do beijo, do cortejo, do desejo Quando eu abro o lençol, ele é fantasma de caras anjos e fadas, rainhas raras Sempre perto da loucura, sempre sol de pouca dura Eu meto água na fervura disfarçando com brandura Eu - tenho medo que o feitiço vire o feiticeiro Eu tenho medo que desta vez partas tu primeiro Tenho tanto medo que talvez compre um rafeiro, perca o medo de uma vez e te ganhe por inteiro Um dia destes
..."
Foi a expressão usada a certa altura por uma personagem, num dos meus filmes de eleição...
E estes dias, ao olhar para o nada lá fora, enquanto a vida decorria aparentemente de forma normal...as pessoas continuavam apressadas a esfregar as mãos a tentar enganar o frio, as crianças com pesadas mochilas e cachecóis coloridos nas sua correrias do costume, as árvores despidas, o tempo cinzento, o barrulho que a "camioneta" sempre faz ao chegar à paragem, enterrompendo as tretulias do povo acerca da crise....Foi num desses dias ditos normais, que dei por mim a ter a mesma expressão que aquele actor teve. Que aquela persongem teve. De forma tão simples e pura. Como pondo um ponto final num capítulo...quase quase com o sentimento de dever cumprido. Mas por outro lado com um quase imperceptivel baixar de ombros, que não deixava escapar um certo conformismo...
Conformada talvez nao.Consciente e mais desperta sim. Mas nesse dia (mesmo que involuntariamente) penso que também eu terminei mais um capítulo, fechei o livro...coloquei-o na estante.
Não quero voltar a pegar nele, nem ser tentada a lê-lo novamente.
Tal e qual a personagem, o olhar em frente é algo triste e às vezes controverso mas perfeitamente imperceptível à vista desarmada. E enquanto assim é temos tudo controlado!
Chega.Por mim chega.
...em que somos meros espectadores da nossa própria vida...
Porque há dias em que nada acalma o turbilhão que se teima em disfarçar.
Porque há dias assim...em que só esta música arrebata, e acalma a respiração até embalar...